De acordo com o CDC, aproximadamente 1 em cada 36 crianças são diagnosticadas com autismo, ou Transtorno do Espectro Autista-TEA, um número que vem crescendo devido ao aumento da conscientização e aos avanços nos métodos de detecção precoce.
Neste artigo, abordaremos sobre o que é o autismo, como identificar e sobre as estratégias para o tratamento.
O que é o Autismo Infantil?
O “Autismo Infantil” ou Transtorno do Espectro Autista (TEA) é uma condição que afeta o desenvolvimento da criança, principalmente nas áreas de interação social, comunicação e comportamento, afetando a forma como uma pessoa percebe o mundo, se comunica e interage com os outros. Cada criança com TEA pode apresentar diferentes características, o que torna o diagnóstico mais difícil e faz com que o tratamento precise ser adaptado para cada caso.
Para avaliação e tratamento inicial recomenda-se uma consulta presencial no consultório com a Dra Priscila Chahoud, em que ela irá entender os detalhes da situação e indicar sempre o melhor tratamento, que pode envolver a indicação de neurologista pediátrico ou alguma especialidade adicional.
Para conhecer mais sobre a Dra Priscila Chahoud, acesse o site principal em https://drapriscilachahoud.com.br/#sobre.
O que significa o “espectro” no autismo?
No contexto do autismo, a palavra “espectro” quer dizer que existe uma grande variação na forma como o autismo se manifesta em cada pessoa. Em vez de ser uma única condição igual para todos, o autismo envolve uma variedade de características e níveis de dificuldade.
Algumas pessoas autistas conseguem se comunicar bem e vivem de forma independente, enquanto outras precisam de mais ajuda e podem ter dificuldade para falar ou interagir socialmente. Essa diferença é o que chamamos de espectro, mostrando que o autismo pode ser mais leve ou mais intenso, dependendo da pessoa.
Portanto, o espectro do autismo nos ajuda a entender que cada pessoa autista é única, com necessidades e habilidades próprias. Isso nos lembra de respeitar e apoiar cada um de acordo com sua individualidade.
Qual a causa do autismo e como podemos identificá-lo?
Estudos recentes indicam que o TEA é um transtorno multifatorial, envolvendo uma combinação de predisposição genética e fatores ambientais. Com relação aos fatores genéticos, mais de 100 genes têm sido associados ao TEA, o que sugere uma complexidade em sua origem.
Embora muitos casos tenham uma base genética, alguns aspectos aumentam o risco, como idade parental avançada, prematuridade, baixo peso ao nascer, exposições a alguns medicamentos, infecções maternas, contato com substâncias tóxicas (como pesticidas ou poluição).
Como identificar o TEA na Infância?
O diagnóstico precoce de TEA é considerado fundamental, pois permite intervenções antecipadas que melhoram significativamente o desenvolvimento e a qualidade de vida da criança.
O TEA pode se manifestar de várias formas na infância, e os sinais variam de uma criança para outra. No entanto, existem alguns comportamentos comuns que podem ser observados e ajudar a identificar o TEA.
Esses sinais geralmente aparecem em três áreas principais: comunicação, interação social e comportamentos repetitivos e interesses restritos.
Quais os sinais de alerta de TEA de acordo com a faixa etária?
Aqui estão alguns sinais de alerta para o autismo de acordo com os marcos de desenvolvimento e faixas etárias. Lembrando que esses sinais NÃO representam um diagnóstico, mas podem ser indicativos de uma necessidade de avaliação profissional.
0 a 3 meses
- Contato visual ausente ou reduzido: o bebê raramente olha nos olhos de outras pessoas, especialmente dos cuidadores
- Pouca ou nenhuma resposta ao som da voz humana: o bebê não se vira para sons familiares, como a voz dos pais, não responde a sons altos
- Ausência de expressões faciais sociais: o bebê não sorri em resposta a um sorriso ou expressão de carinho de outra pessoa
- Não consegue elevar a cabeça quando de bruços
- Não se acalma com o cuidador
4 a 6 meses
- Não balbucia, não faz sons como se estivesse conversando
- Não sorri e não se interessa pelas pessoas ou ambiente, não faz contato visual
- Não acompanha objetos com os olhos e não tenta levar objetos ou mãos à boca
- É “molinho”. Não sustenta a cabeça e se movimenta pouco
- É irritado. Não se acalma na presença da mãe ou cuidador e não se importa ao ser separado da mãe. Parece não gostar do colo
6 a 9 meses
- Não responde ao próprio nome: mesmo após várias tentativas, o bebê não parece reagir ao ser chamado. Interage pouco com ambiente e pessoas
- Não sorriem em reciprocidade, não demonstram afeto
- Pouca ou nenhuma emissão de sons: o bebê emite poucos sons, ou quase nenhum balbucio, como “ma-ma”. Não tenta imitar a voz
- Segue “molinho”. Não rola, não senta nem com apoio
- Pode apresentar dificuldades na introdução alimentar
9 meses a 12 meses
- Não se importa em ficar sozinho
- Não responde ao chamado
- Manipula brinquedos de maneira não usual
- Começa a ficar seletivo com relação a alimentos
- Chora muito
- Se incomoda com barulho, luminosidade excessiva;
- Responde mal a mudanças de rotina
- Pode iniciar com as estereotipias
- Ausência de interesse por brincadeiras interativas: pouca ou nenhuma tentativa de brincar de “esconde-esconde” ou “cadê-achou”. Não se interessa por brinquedos
12 a 18 meses
- Atraso na fala: poucas tentativas de usar palavras simples ou ainda nenhuma palavra. Algumas crianças apresentam ecolalia, ou seja, repetição de palavras ou frases que ouviram anteriormente, às vezes fora de contexto. A ecolalia pode ter função comunicativa, especialmente para pessoas que têm dificuldade em encontrar palavras próprias para expressar emoções ou pensamentos.
- Pouca interação com outras pessoas: mesmo com familiares, o bebê pode não demonstrar interesse em se comunicar. Não responde ao ser chamada
- A criança não aponta para coisas de seu interesse ou compartilha atenção com outra pessoa.
- Não imita nenhuma ação ou comportamento (jogar beijo, dá tchau, não bate palmas)
- Não faz ou sustenta o contato visual
- Brinca de maneira não usual
- Não anda ou anda nas pontas dos pés e cai com frequencia
- Não identifica partes do corpo
- Dificuldade em lidar com mudanças de rotinas
- Perde habilidades adquiridas
- Faz estereotipias
- Não sabe a função de utensílios como escovas, colher e garfos
- Não explora brinquedos
- Não obedece a comandos, como por exemplo, dar um objeto para o cuidador
- Perde habilidades já adquiridas.
2 a 3 anos
- Não faz frases de 2 ou 4 palavras
- Não segue instruções simples
- Não reconhece cores e formas
- Não ajuda a tirar roupa ou se vestir
- Prefere brincar sozinha
- Apresenta alterações sensoriais, ou seja, são muito sensíveis a sons, luminosidade, sabores
- Apresenta hiperfoco
- Evita ou não sustenta o contato visual
3 a 5 anos
- Dificuldade em brincar com outras crianças: a criança pode preferir brincar sozinha, sem mostrar interesse em jogos de faz-de-conta ou brincadeiras compartilhadas e interativas
- Preferência por rotinas rígidas: qualquer mudança na rotina pode causar grande angústia.
- Dificuldade para entender ou expressar emoções: pouco entendimento das emoções dos outros e dificuldade para expressar as próprias emoções.
- Não compreende “meu”, “seu”, “eu” e ”você”
- Fala precária
- Resiste a troca de roupas, hora de dormir e ir ao banheiro
- Tem dificuldade com o desfralde
- Não compreende regras sociais
- Não consegue contar uma história preferida
- Dificuldades de coordenação motora e sensoriais
- Apresenta hiperfoco
A Dra Priscila Chahoud tem se especializado no tema, com diversos cursos e experiências práticas. Indica-se uma consulta presencial em consultório para avaliar os sinais e avaliar o melhor tratamento.
Se uma criança faz contato visual, podemos excluir o diagnóstico de TEA?
Não, o contato visual por si só não exclui o autismo. Embora dificuldades com o contato visual sejam comuns em pessoas no espectro autista, isso não é um critério absoluto. O autismo é um transtorno de desenvolvimento com uma ampla variedade de manifestações, que vão além do contato visual.
Algumas pessoas autistas podem fazer contato visual, especialmente em ambientes em que se sentem confortáveis, mas podem ainda ter outras características que se alinham ao espectro. Além disso, algumas pessoas autistas aprendem a fazer contato visual como uma habilidade social, mas isso não significa que a interação seja confortável ou natural para elas.
O diagnóstico de autismo é feito com base em uma avaliação abrangente por profissionais qualificados, levando em conta um conjunto variado de características e comportamentos ao longo do desenvolvimento da pessoa, e não apenas um traço isolado como o contato visual.
O que é o hiperfoco?
O hiperfoco é uma característica comum no Transtorno do Espectro Autista (TEA) e consiste em um estado de concentração intensa e prolongada em uma atividade, assunto ou interesse específico. Essa concentração pode ser tão profunda que a pessoa se torna menos sensível a estímulos externos e até a necessidades básicas, como comer ou dormir.
Alguns exemplos de hiperfoco, é quando a criança explora intensamente temas como dinossauros, astronomia, sistemas de transporte, ruas, bandeiras, insetos, ou qualquer outro assunto.
O hiperfoco pode levar a altos níveis de especialização e conhecimento, mas pode limitar a flexibilidade e dificultar a realização de outras tarefas.
O que são as estereotipias no autismo?
São comportamentos repetitivos e restritos, uma das características principais do autismo. A estereotipia é uma forma de lidar com sensações ou emoções. Essas estereotipias não são sempre um problema; muitas vezes, ajudam a pessoa com autismo a lidar com o estresse ou com mudanças no ambiente. Porém, se os comportamentos forem muito intensos ou atrapalharem o dia a dia, pode ser útil buscar ajuda para encontrar formas de adaptação.
Quais os principais tipos de estereotipias?
Aqui estão alguns tipos comuns de estereotipias no TEA:
- Movimentos corporais repetitivos: Incluem balançar o corpo, bater as mãos (flapping), girar as mãos ou os dedos, e balançar a cabeça. Esses movimentos ajudam algumas pessoas a se acalmarem ou a reagir a estímulos ao redor.
- Manipulação de objetos: Algumas pessoas com TEA podem ficar repetidamente girando objetos, organizando-os de formas específicas, ou sacudindo objetos, como brinquedos ou objetos do cotidiano.
- Padrões de fala repetitivos: Ecolalia
Como são as alterações sensoriais no TEA?
As alterações sensoriais são uma característica comum no Transtorno do Espectro Autista (TEA), e essas diferenças podem afetar significativamente a forma como a pessoa experimenta o ambiente ao seu redor.
As alterações sensoriais no autismo geralmente se manifestam como uma hipersensibilidade (quando os estímulos sensoriais são sentidos de maneira muito intensa) ou hipossensibilidade (quando a resposta ao estímulo sensorial é reduzida ou ausente). Esses aspectos sensoriais podem impactar áreas como audição, visão, tato, paladar, olfato, e até mesmo o sentido de equilíbrio e percepção corporal.
Hipersensibilidade
Na hipersensibilidade, a criança ou adulto com TEA reage intensamente a estímulos que, para outras pessoas, podem parecer normais ou até imperceptíveis. Esse tipo de resposta pode causar desconforto ou ansiedade e, muitas vezes, leva a comportamentos para tentar evitar ou controlar esses estímulos.
Exemplos:
- Audição: Sons considerados comuns, como campainhas, aspiradores de pó ou ruídos de fundo, podem ser extremamente desconfortáveis. Alguns sons podem até provocar dor ou pânico.
- Visão: Ambientes muito iluminados ou com luzes piscantes podem ser opressores. Algumas pessoas também podem ter dificuldades com luzes fluorescentes devido ao brilho intenso.
- Tato: Podem ser evitados certos tipos de toque, como apertos de mão ou abraços. Roupas com etiquetas ou certos tecidos podem causar desconforto significativo.
- Paladar e Olfato: Alimentos com sabores fortes ou cheiros intensos podem ser rejeitados. Muitas pessoas no espectro têm preferências alimentares restritas por causa de texturas e sabores.
Hipossensibilidade
Na hipossensibilidade, a pessoa pode precisar de estímulos mais fortes para sentir uma resposta. Isso pode levá-la a buscar estímulos adicionais e pode resultar em comportamentos que parecem incomuns para os outros.
Exemplos:
- Audição: Pode haver uma tendência de ignorar sons normais do ambiente e responder apenas a sons muito altos ou específicos.
- Visão: Podem fixar o olhar em objetos em movimento, como ventiladores ou girar brinquedos, para obter uma estimulação visual extra.
- Tato: Algumas pessoas podem buscar pressão física intensa, como apertos firmes, para “sentir” melhor o toque.
- Propriocepção (percepção corporal): Algumas crianças ou adultos com TEA podem gostar de correr, pular ou pressionar o próprio corpo para ter uma sensação de onde estão seus limites corporais.
Impacto das Alterações Sensoriais na Vida Diária
Essas diferenças sensoriais podem afetar muitas atividades do dia a dia, desde a alimentação até a adaptação em ambientes sociais e escolares. Por exemplo, uma criança com hipersensibilidade a ruídos pode ter dificuldade em se concentrar na sala de aula, enquanto uma pessoa com hipossensibilidade ao toque pode procurar contatos físicos intensos que outras pessoas não entendem.
Estratégias e Intervenções no autismo
A intervenção para lidar com essas diferenças sensoriais inclui terapias ocupacionais com integração sensorial, que buscam ajudar a pessoa a encontrar estratégias para lidar com os estímulos de maneira mais confortável. Uso de fones de ouvido, objetos calmantes, roupas sem etiquetas e técnicas de respiração e relaxamento podem ser algumas adaptações que melhoram a qualidade de vida.
Essas alterações sensoriais são únicas para cada pessoa, e o suporte individualizado pode fazer uma grande diferença na vida de quem está no espectro autista.
Qual o tratamento do autismo?
Intervenções precoces têm sido amplamente reconhecidas como uma ferramenta poderosa para melhorar as habilidades sociais e comunicativas das crianças com TEA. As principais intervenções incluem desde terapias comportamentais a programas que integram a família diretamente no processo de desenvolvimento da criança.
A terapia ABA (do inglês “Applied Behavior Analysis”), ou Análise do Comportamento Aplicada, é uma abordagem que ajuda pessoas, especialmente aquelas com autismo, a desenvolver habilidades e melhorar comportamentos. Ela é muito usada para ajudar crianças com autismo a aprender a se comunicar, a se relacionar com os outros e a se tornar mais independentes em atividades do dia a dia.
O que é ABA?
A ABA funciona como um treinamento de habilidades, onde o terapeuta ensina a pessoa a fazer coisas novas ou a agir de forma mais positiva em diferentes situações. Ela usa técnicas para incentivar comportamentos bons, como seguir instruções, responder ao próprio nome e se comunicar melhor. Além disso, ajuda a reduzir comportamentos que possam ser prejudiciais ou que dificultem a vida da pessoa.
Como a ABA Funciona?
Em uma sessão de ABA, o terapeuta pode usar diferentes estratégias para ensinar a pessoa. Por exemplo:
- Reforço positivo: Quando a pessoa faz algo bom ou correto, ela recebe uma recompensa, como elogios ou uma atividade que gosta. Isso ajuda a motivá-la a repetir o comportamento.
- Divisão de tarefas: Habilidades complexas, como escovar os dentes, são divididas em pequenas etapas. O terapeuta ensina cada passo individualmente até que a pessoa consiga fazer a tarefa sozinha.
- Prática e repetição: A prática constante ajuda a pessoa a aprender e lembrar das novas habilidades.
- Integração com Outras Terapias: A ABA é frequentemente usada em conjunto com outras abordagens, como terapia ocupacional, fonoaudiologia para proporcionar um suporte abrangente ao desenvolvimento da criança
A Análise do Comportamento Aplicada é uma abordagem que pode ser extremamente benéfica para muitas crianças com TEA, mas é essencial que sua aplicação seja realizada de maneira ética, respeitosa e centrada na criança, usada de forma mais humanizada e personalizada , garantindo que seus direitos e individualidade sejam sempre considerados.
O Transtorno do Espectro Autista é uma condição complexa e desafiadora, mas com o diagnóstico precoce, intervenções eficazes e suporte familiar adequado, é possível alcançar melhorias significativas na qualidade de vida e desenvolvimento das crianças. A ciência continua avançando em sua compreensão sobre o TEA, e o papel da família como agente ativo no processo terapêutico é um ponto crucial para o sucesso das intervenções.
Ao explorar as novas descobertas e terapias, é fundamental que as famílias e os profissionais de saúde estejam cientes dos desafios e limitações, mas também do potencial de uma abordagem integrada e personalizada. Com a evolução das pesquisas, espera-se que cada vez mais crianças com TEA possam desenvolver suas habilidades ao máximo, promovendo um futuro de inclusão e desenvolvimento pleno.
Leia também:
Para manter-se informado, recomendamos a leitura dos seguintes artigos:
Pediatria: Cuidado integral que protege e transforma a infância
Bronquite, bronquiolite, asma e pneumonia em Crianças: Diferenças, Sintomas e como tratar?
Sinusite, otite e amigdalite: Causas, sintomas e como resolver?
Referências
- CDC (2021). Prevalence and characteristics of autism spectrum disorder among children aged 8 years—autism and developmental disabilities monitoring network, 11 sites, United States, 2018, Disponível em https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/34855725/
- BMJ (2021). Project AIM: Autism intervention meta-analysis of early childhood studies. Disponível em https://www.bmj.com/content/383/bmj-2023-076733
- Maenner MJ, Shaw KA, et al. (2021). Early identification of autism spectrum disorder among children aged 4 years—Autism and Developmental Disabilities Monitoring Network. Disponível em https://www.cdc.gov/mmwr/volumes/72/ss/ss7201a1.htm